quarta-feira, janeiro 18, 2012

A MAIS RELES DIABOLIZAÇÃO DAS TELENOVELAS

A EXEMPLAR EXPLICAÇÃO DO CRIME

Portugal é um excessivo produtor de telenovelas, procurando imitar os piores exemplos do Brasil. Começa a exportar estes subprodutos e, na luta tão absurda pelas audiências como a das agências de rating classificando países e empresas de simples lixo, tem nos canais televisivos o melhor veículo daquela produção, produtoras que obrigam excelentes actores a fazerem comédia, tragédia e farsa na mesma cena, se for preciso. Tais produtoras inventam histórias onde muitos lobos comem muitas meninas e onde o luxo encenático mente a todos com todos os dentes. Uma cena dramática, de recorte plausível (são sobras da indigência do imaginário corrente) é quase sempre acompanhada por canções em Inglês ou Português, completamente inadequadas para o efeito e passando para primeiro plano com um som que absorve tudo e em geral obriga a prolongamentos da representação (em detrimento da expressão fílmica) para que haja espaço farto a tão edificante estética melódica, canções em geral rascas, pelo menos desfocadas do seu valor intrínseco pelo uso patético, pelo contexto errado. A cena morre sob o efeito do som.
Mas os valores humanos que poderiam ser tratadas com as mesmas audiências (era só preciso um bocadinho de tempo) desapareceram deste horizonte de horror e pesadelo, entre mil beijos por cada novela. O crime organizado até ao impossível, numa luta contra seres intocáveis, em nome de interesses inconfessáveis, faz-se à base de guiões enovelados e promotores de uma violência perversa, plural, avassaladora, em toda a renda do enredo e só com alguma reedificação benévola (mas pirosa) no fim. Tudo se perdoa no fim e às vezes com dúvida.
Houve uma excepção razoável a isto, e com grande nível de feitura: «Olhos nos Olhos». Aí se verificou a capacidade invulgar dos actores, de uma direcção criativa, de um abrir de portas para a qualidade formal e problemas sócio humanos. Mas agora, tudo vai de mal a pior. Bastou-me ver aquele episódio de «Rosa de Fogo» para chegar a esta indignação mínima, porque vejo cenários, luxos, luzes e trabalho de câmara, entre outros aspectos benignos, engolindo sem fim capaz milhões e milhões de euros para um produto enganador, perverso, anti-pedagógico, inteiramente diabolizado por uma moda que a televisão, como grande invento do Homem para o Homem, não merecia. E parece que o mal, em linguagens vertiginosas e nos vários campos temáticos, se generaliza a todo o mundo. Era bom que a técnica digital se tornasse alérgica a esta grosseira manipulação, de todo em todo amoral.













1. Este senhor diz chamar-se Pedro e faz-se passar por filho
(perdido) de uma senhora dona de um império
da cosmética.
Quer ficar com tudo, encomendando assassinatos,
partir as pernas de uma bailarina, batendo na amante
e na jagunça de serviço, falsificando documentos,
armadilhando empecilhos, chantageando o seu obediente
faz-tudo, matando até o cão da menina para ela se julgar
assassina do seu bicho muito estimado e protector.

2. Adormece
a amante.







3. adormece o
chantageado
jagunço
a quem
obrigou
a drogar
a bailarina e
a menina

4. adormece
a menina
e acorda-a
para ela ver
o seu cão
morto













5. Mas há mais danados colaterais. Esta «menina»
faz as maiores patifarias para roubar o
patrão à amada bailarina.
Trata de uma Alzheimer com falso desvelo,
drogado-a e drogando o filho dela
para o alucinar a seu favor.









6. Esta senhora recusa o tratamento de um
cancro, mentindo aos familiares, para levar ao
absurdo a defesa da sua gravidez e do filho.
É mais amiga da vida alheia do que dela mesma,
no fundo suicidando-se em contradição à elegia da
vida. Parece querer acabar com
a lei do aborto, abortando-se e sem ter garantias
de que o filho vive bem, sem ela, e a substituta.
Estas novelas têm, assim, mensagens subliminares
que configuram uma humanidade patológica,
cega por mitos e cânones, decisivamente
antropofágica. Em cadeia, três ou quatro
por cada noite de impaciência.









7. Este senhor, enfermeiro, é irmão da senhora
grávida. Desvia um ventilador e põe a vítima
inconsciente, em assistência artificial, esperando
o fim da gravidez: ambos, obviamente
psicopatas, esperam assim a
consolidação e o nascimento do bebé.
Não sei como acaba essa história,
mas por mim, em coerência, ela devia morrer
sem o benefício almejado de abraçar o filho
oxigenado numa simulação comatosa
da mãe.

terça-feira, janeiro 17, 2012

QUE NÃO PENSAR É ESTE PENSAR TÃO ÓBVIO?

A fala é um gesto facial parcialmente engolido

O que parecia coisa assente era a de que «só consegue pensar quem é capaz de articular palavras. Diz-nos Ana Gerschenfeld: A mente humana terá surgido graças a uma capacidade inata para a linguagem falada? O psicólogo propõe uma narrativa da origem da linguagem e do pensamento radicalmente diferente do que estipula a linguística moderna. O credo que Noam Chomsky enunciou há 50 anos poderá estar a abrir brechas. A obra recente de Michael Corballis (Universidade Auckland, Nova Zelândia) intitulada The «Recursive Mind: the origins of Human Language, Thought, and Civilization» aborda, na perspectiva da psicologia experimental, comportamentos humanos ao nível da linguagem. Aí se lê que os neandertais eram tão inteligentes como nós, capazes de de pensar e comunicar e de comunicar espontaneamente, embora de forma não verbal. Aproxima os chimpanzés, em certa medida, desta condição. Corballis defende não só que as origens da linguagem humana são gestuais e não vocais, mas que o pensamento não precisa da linguagem para surgir. Isto estabelece um corte importante com a ideia defendida até há pouco, a de que sem linguagem não pode
haver pensamento, tendo este surgido por capacidades verbais inatas do homem, mercê de uma evolução recente, repentina e única na história das espécies.
Corballis, falou recentemente em Lisboa e disse que era preciso reposicionar os seres humanos modernos numa perspectiva de continuidade natural com a evolução da vida na Terra. Em entrevista publicada no Público, aquele psicólogo considerou que não é a fala que nos torna humanos. «É verdade que a linguagem é algo que apenas temos nos humanos, mas acho que não precisa de ser falada. A linguagem gestual é tanto uma linguagem como a fala.»
Existe um grande debate à volta disto, entre os especialistas que se revêem em Chomsky e os que estão mais próximos das ideias de Everett. Há quem pense, por exemplo que a estrutura recursiva da linguagem surgiu quando a escrita apareceu. (...) Jornal: Ou seja, caímos na armadilha de pensar que o nosso próprio pensamento é linguístico, porque tanto temos jeito para rotular as nossas imagens mentais? «Sim, acho que caímos nessa armadilha. Mas eu acho que o pensamento, de forma mais provável, foi sendo composto de pantominas, dessa forma de imaginar os acontecimentos como se estivessem a acontecer».

É talvez preciso começar a encarar, mais profundamente, o papel da percepção visual, pois ele activa muito antes de haver gritos organizados. Ver um animal caçável pressupõe o gesto que aponta, o gesto que mata. A imagem é mãe de muitos dos mais importantes e vários aspectos mecânicos, orgânicos e estruturais da (das) linguagem. Como seriam verbalizadas as figuras representativas da linguagem gráfica egípcia?

quinta-feira, janeiro 12, 2012

TAPEÇARIA COMO SUPORTE E DÁDIVA DA BELEZA

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a invenção da esperança
contra o leite derramado



TETYANA CHKYRYA

Em contraste com o que veremos a seguir, temos aqui a autora de uma experiência juvenil no âmbito da tapeçaria moderna, a peça transformada em vestido com elaboração no tear e duas pequenas asas/mãos que emergem dos ombros. Tapeçaria no limite, instalação, performance, tecelagem ainda. Tetyana foi aluna da cadeira de tapeçaria da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Desde a reforma de 76/79 que têm sido efectuadas as mais variadas experiências, estudos de renovação, provocações e revisitações à tapeçaria de raíz clássica, numa longa viagem que nunca teve, senão desta vez em Portalegre, um reconhecimento público através das actividades mais avançadas daquela instituição. Artes Plásticas sim, a decrescer. Desenho e design também. Mas é preciso coleccionar bons acervos destas linhas de formação tendo em vista a montagem de exposições bem contextualizadas e explicadas.

sem leite derramado

A EUROPA TEM DE MAMAR EM SOLIDARIEDADE

A MAMADA INCONFESSÁVEL


Todos os povos da Europa, e não só, esperam que a ganância se transforme em fome e que a fome seja vencida em solidariedade, tenha mais força unificadora, nos direitos e nas prestações do que esta imagem pressupõe: um membro da troika, fraco e perto do resgate, alimentado às escondidas pela mamãe chanceler, no recato do escondimento.

domingo, janeiro 08, 2012

COLISEUS COM RELVA E GLADIADORES NO SÉC XXI



Não há forma de olhar para a violência destes «gladiadores» sem nos lembramos de outros (igualmente do nosso tempo mas menos disfarçados). No caso do rugby (futebol americano), toda a patética blindagem dos jogadores é uma defesa que apenas excita maiores expedientes tácticos de brutalidade: não há desporto, não há verdadeiro respeito pelo ser humano como personagem de um jogo, o espectáculo é avassalador no Coliseu contemporâneo.
O futebol que se pratica em Portugal e um pouco por todo o mundo, enferma dos mesmos males, apesar de parecer mais leve e as defesas do corpo serem mínimas, limitando-se às caneleiras para as pernas. O espaço onde se joga é um recinto rectângular, com chão relvado, e grandes bancadas em volta, por vezes separadas do campo por valas ou redes de contenção do público. Porque a evolução deste espectáculo industrializado tribalizou muito os grupos, tornou-os rivais e não adversários desportivos, promoveu a criação de claques agressivas que saltavam para o relvado e chegaram a provocar verdadeiras catástrofes, tendo sido a Inglaterra o país que mais legislou sobre o assunto e tomou medidas radicais com a proibição das claques organizadas em grupos capazes da prática do vandalismo e de agressões premeditadas aos adeptos de outras equipas.
É uma espécie de carnificina, sem equilíbrio nem ritmo, o que os espectadores de futebol vão, parece que em jeito de catarse, olhar e seguir nos nossos estádios. O endeusamento dos «gladiadores» do futebol exacerba tudo em volta e a própria engenharia financeira de compra e venda de «intérpretes» funciona na mais promíscua das trocas e especulação de um lado para o outro. É suposto haver regras no futebol. E não são poucas. Equipas de arbitragem seguem de perto toda a partida e zelam pela marcação de faltas que contribuam para um jogo mais leal e menos lesivo da própria estética que envolve. Há países, em especial a Inglaterra, espaço de origem do futebol, em que os treinadores e as equipas primam, em larga medida, por disputas territoriais de malha larga, com precisão nas trocas de bola e mesmo na corrida de combate ou nos cruzamentos sobre a grande área. O que vemos, nesses casos especiais, são jogos de forte personalidade atlética em bons espectáculos de futebol, um ritmo bem balanceado entre estruturação e ataque, descongestionamentos na boa conta das lateralizações, tudo em ordem a que a violência corpo a corpo a corpo não se verifique ou não seja mais do que afloramentos sem dolo.
Em Portugal, para não falar noutras áreas da chamada latinidade, o investimento no futebol é desproporcionado e a cultura pela excelência um mito, incluindo treinadores (os «misters») e tropas de defesa e ataque, desde portugueses a reforços internacionais de grande cotação na respectiva bolsa de valores. Uma certa corrupção indisfarçável capeia em alguns recintos e linhas «tribais mistas». O arrebatamento é mal travado, os árbitros não conseguem fazer escola, os dirigentes especulam com as mediatizações. E o que vemos no terreno é um péssimo futebol, onde estiolam jogadores bons, por vezes bandos de gladiadores a perseguirem o condutor da bola, corridas tolas, sem nexo nem bom fim, tudo se misturando numa pequena área do campo. Cruzam-se pontapés de ameaça, outros de desconcerto, muitos corpo-a-corpo em que os jogadores disputam a vantagem sobre a bola com prisões às camisolas, travagem com braços e pernas, assim durante quase toda a partida, com lesões, paragens infinitas, faltas de cartão amarelo ou vermelho, abundância de livres e infracções graves para penalti, casos de indecisão e disputa verbal contra a marcação do erro ou contra a sua improbabilidade.
Para abreviar, o futebol praticado desta maneira, nada tem a ver com desporto ou espectáculo. Tudo se passa numa arena de lutas e assombrações. E o que me faz assinalar esta questão, apelando para se estudar a melhoria do jogo e das regras, é justamente por pensar que o corpo dos jogadores está cada vez mais exposto à barbárie pela vitória, sendo fácil listar os «crimes» cometidos ao longo de um ano.
Proponho daqui, é apenas um acto de cidadania, que se implemente um futebol (novo) em que não seja permitido o contacto físico jogador a jogador, apenas dispensando de sanções ocasionalidades óbvias. Isto permitiria civilizar e abrir o jogo, o qual passaria a ser feito em maiores áreas de avanços e recuos por troca de bola. Esta concepção de um outro futebol teria certamente um vasto incremento do apuro técnico e físico dos intérpretes, menos recurso à fraude e quesílias, a par
de aprofundamento das linhas de arbitragem e do ritmo e da beleza de um jogo cuja matriz mais evoluída é alinhada, com efeito, por esta perspectiva prática e teórica, a registar em regras adequadas.

SEPARADOR*** SEPARADOR*** SEPARADOR

sábado, janeiro 07, 2012

MORREU O PINTOR JOSÉ CÂNDIDO, HOMENAGEM

Pintor e Designer José Cândido

O autor dos blogues Desenhamento e Construpintar , Rocha de Sousa, homenageia o artista José Cândido e associa o seu pesar ao pesar de outros colegas, amigos e família deste homem de espírito aberto. Veja o conteúdo desta homenagem no blogue CONTRUPINTAR02